domenica, aprile 12, 2009

E' UN PO' LUNGO, MA VALE LA PENA LEGGERE IL DOCUMENTO DI SEGUITO....

BUONA PASQUA

Líderes religiosos das comunidades Católica, Evangélica e Muçulmana da Guiné-Bissau



MENSAGEM AO POVO DA GUINÉ-BISSAU


“Si nô súmia bentu, nô na otcha turbada;
Si nô súmia bardadi, nô na otcha paz”!

(“Se semearmos ventos, colheremos tempestades; se semearmos a verdade, colheremos a paz”!)

Introdução
Nós, os líderes religiosos das comunidades católica, evangélica e muçulmana da Guiné-Bissau, fomos despertados, com surpresa e horror, pelas notícias referentes aos assassinatos do Chefe de Estado Maior das Forças Armadas (Batista Tagme na Waie) e do Presidente da República (João Bernardo Vieira), nos passados dias 1 e 2 do mês de Março de 2009, com poucas horas de intervalo entre si.
Com tais acções repugnantes, mais uma vez optámos pelo caminho errado na solução dos problemas de carácter político e militar: preferimos a solução rápida mas enganadora e mortal da violência armada à solução dialogada e não violenta dos problemas, que pode ser mais vagarosa mas que é seguramente mais racional e perdurável. Para nós, o modo violento de resolver os problemas (tal como tem sido feito até aqui, em vários momentos após a Independência) é verdadeiramente deplorável, visto que só serve para gerar novos problemas, para espezinhar sem escrúpulos a dignidade e a sacralidade da vida humana, para violar de modo clamoroso as regras do Estado de Direito, e para denegrir cada vez mais a imagem do nosso país. Se continuarmos pelo caminho desta espiral de violência, o nosso país corre o risco sério de não poder participar de cabeça erguida no concerto das nações e de nunca mais chegar ao tão almejado desenvolvimento porque anseiam as nossas populações.

Perante tudo isto, não podemos deixar de nos interrogar seriamente: - Mas quando é que os Guineenses irão parar de enlutar a nossa querida pátria? Será que estamos condenados a fazer da violência e do homicídio a nossa segunda natureza? Será que ainda não chegou o tempo para aprendermos a voltar atrás neste caminho errado e sem futuro promissor?

É certo que os problemas fazem parte de todas as sociedades humanas, resultantes quase sempre de choques de interesses materiais, de má gestão da liberdade e do bem comum, de orgulhos e de incoerências individuais, etc. Mas os problemas, quando surgem, devem ser resolvidos quanto antes e de maneira conveniente porque, não sendo resolvidos ou sendo mal resolvidos, acabam sempre por constituir uma ameaça séria para a vida das sociedades. E qual será essa maneira certa e conveniente?
Para nós líderes religiosos de três comunidades de crentes da Guiné Bissau que vos enviamos esta Mensagem, a maneira certa e conveniente de resolver os nossos problemas político-sociais e militares é a do caminho não violento, do caminho do diálogo confiante e persistente, do caminho do respeito pelas instituições e pela legalidade, caminho que os nossos anciãos na fé nos apontaram

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e que até agora ainda não soubemos escutar nem imitar: o Bispo D. Settímio Ferrazzetta, o Aladje
Malam Serco Indjai e o Pastor Ernesto Lima. Esse é mesmo o único caminho que nos poderá levar a uma sociedade realmente desenvolvida e democrática na Guiné-Bissau.
E agora, após mais esta tragédia nacional, o que será possível e desejável que façamos para redefinir de algum modo o nosso país, orientando-o definitivamente para o caminho da solução racional e dialogada dos conflitos com que nos debatemos e continuaremos a debater no futuro?


RENOVAR URGENTEMENTE A MENTE E O CORAÇÃO DOS GUINEENSES

Para nós, torna-se absolutamente necessário e urgente que todos os guineenses façam uma viragem decisiva na sua maneira de viver em sociedade. Torna-se imprescindível que todos os guineenses ousem olhar para dentro de si mesmos e para a situação geral do país e façam um profundo e sincero acto de conversão interior, de mudança de mentalidade e de comportamento, ajudados pela sua fé em Deus, com lucidez intelectual, com espírito de sacrifício e de amor patriótico, com confiança em si mesmos individualmente e como Nação. Não mais poderemos continuar a querer persistir numa mentalidade mágica e de violência desumanizante, que leva aos resultados desastrosos que já conhecemos; temos de apontar para horizontes mais positivos e humanizantes.

Para que isso possa acontecer, teremos de concentrar nossa atenção e esforços em ultrapassar algumas barreiras ou obstáculos que nos têm impedido de aceder a uma maneira de vida mais desenvolvida, mais democrática e com maiores perspectivas de futuro. É para a ultrapassagem dessas barreiras ou obstáculos que agora queremos chamar a vossa atenção.


Passar da hostilidade ao acolhimento fraterno:

Em nossas relações sociais, temos de abandonar o sentimento da hostilidade (rejeição) uns para com os outros: nos outros não podemos ver sobretudo o que é diferente, negativo ou perigoso para nós ou para a nossa família; pelo contrário, haveremos de olhar para os limites e falhas dos outros como um convite silencioso para que os ajudemos em espírito de colaboração e corresponsabilidade; haveremos de olhar para os outros sobretudo no aspecto positivo, procurando descobrir as afinidades que a eles nos ligam (a mesma condição humana o mesmo continente, o mesmo país etc.) e tomando consciência de que as diferenças podem ser afinal uma fonte de enriquecimento para todos, já que ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar ao seu semelhante.

Não querer resolver a violência com outra violência semelhante ou ainda pior

Temos de deixar de acreditar na violência física (força ameaçadora e desumanizante) como solução para os nossos problemas, já que uma violência chama sempre outra violência (se possível ainda maior) e a cadeia de violência nunca mais acabará. Há que cortar o mal pela raiz, desejando uma convivência humana que seja diferente da convivência dos animais, onde não seja a lei “do mais forte” a imperar, mas sim as leis respeitadoras da dignidade e corresponsabilidade de cada ser humano.


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Passar da vingança individual ao recurso à justiça:

A passagem da vingança (solução vindicativa e frequentemente desproporcional) ao recurso à justiça (solução racional e institucional) significa: ter em conta que quem se vinga imita a lógica do ofensor e abre uma espiral de vingança quase interminável; reconhecer que a vingança constitui um insulto às instituições vocacionadas para a resolução humana e legalizada dos conflitos sociais, e
que acabar com ela constitui um “salto qualitativo” no desenvolvimento humano: aprender a responsabilizar sempre quem nos ofendeu, embora sabendo guardar respeito pela sua pessoa individual.



Substituir o comportamento irresponsável pela sujeição às exigências da Ética:

Temos de levar a ética (moral) a sério: cada ser humano não pode fazer apenas e sempre aquilo
que lhe apraz; tem de se sujeitar às regras e exigências da moral social (que há-de ser apoiada não
em conveniências de pessoas ou de pequenos grupos privilegiados, mas sim nos valores fundamentais resultantes da dignidade de cada pessoa humana, criada e amada por Deus). A seriedade no respeito pela ética (moral) é condição necessária para garantir a coesão social e o respeito recíproco dos cidadãos. Em todos os lugares, em todas as circunstâncias e em todas as culturas somos chamados a cumprir o primeiro princípio da ética: “ o bem deve ser feito e o mal deve ser evitado”!
Não é possível continuar com a pretensão injusta e soberba do “bu sibi ami i quim”, ou então a pretensão interesseira e incitante à corrupção “ abó son qui na cumpu Guiné”? É justo que queiramos ser cidadãos de direitos, mas não nos esqueçamos – de modo algum – que também temos de ser cidadãos de deveres.


Levar a sério a nossa fé em Deus

Somos crentes em Deus, nas nossas diferentes comunidades religiosas (religião tradicional africana, muçulmana, cristã e outras). Para nós, a criatura humana não é “senhora” total de sua vida e comportamento moral; depende de Deus que a criou, que a ama e que a julgará. A dependência de Deus não diminui a dignidade da pessoa humana, antes a defende melhor e lhe dá uma dimensão não apenas para este mundo mas também para a vida eterna. Nossa fé de crentes em Deus contribuirá seguramente para melhorar as nossas relações sociais: ajudar-nos-á a ver os outros como Deus gostaria que fossem vistos, com amor e sem preconceitos; encorajar-nos-á a utilizar nossa vida para defender e promover a vida dos outros e o respeito pela natureza que nos rodeia, e que é a nossa “casa comum”. Se acreditamos em Deus, tiremos daí todas as consequências lógicas e todas as energias interiores para podermos participar corajosamente no desenvolvimento integral de nossas populações e de nossa terra comum. Se acreditamos a sério em Deus, tenhamos a coragem de reconhecer que, individual ou colectivamente, errámos variadas vezes na maneira de resolver os nossos problemas mais graves, desviando-nos da

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vontade de Deus e ofendendo o nosso próximo. Agora, a nossa fé comum nos pede que saibamos arrepender-nos de verdade e que façamos alguma acção concreta que demonstre o desejo sincero de procedermos de maneira diferente no futuro.



Conclusão


Caros concidadãos

O gravíssimo momento social que estamos a atravessar não é de muitas palavras, ou de oportunísticas e enganadoras promessas. É de exame de consciência profundo e de necessidade urgente de mudança de comportamentos na nossa vida social e comunitária. Não podemos continuar com uma mentalidade e uma actuação prática baseadas na magia ou na violência, recorrendo à vingança individual, aos golpes militares forjados ou verdadeiros, à
corrupção no uso dos bens públicos ou na participação em negócios escondidos, imorais e
ilegais. Temos de passar para um modo de vida mais positivo e desenvolvido: uma vida social
em que em que o acolhimento fraterno e recíproco, o não – recurso à violência física mas sim à justiça legalmente exercida, o respeito pelas exigências comuns da ética e a ajuda inestimável da nossa fé em Deus, nos ajudem a crescer cada vez mais na felicidade de sermos cidadãos da mesma pátria, continuadores daqueles que nos ofereceram gratuitamente o benefício da liberdade e da independência, para que as defendêssemos e concretizássemos. É indiscutível que “ se continuarmos a semear ódios, recolheremos apenas mais tempestades; mas se, pelo contrário, passarmos a semear a verdade, ela nos libertará e haveremos finalmente de colher a Paz”!
Não é vergonha nem fraqueza voltar atrás num caminho que descobrimos ser errado ou perigoso. Vergonha é não termos coragem de o fazer. A este respeito, e como fruto concreto desta Mensagem, queremos hoje propor-vos o seguinte:

· Que façamos da próxima semana( 5-12 deste mês de Abril) uma semana de oração, e que também durante ela, cada comunidade escolha um Dia particular de oração e de Penitência em favor da Paz e da verdadeira reconciliação entre todos os Guineenses. Procuremos rezar mais intensamente, jejuar conscientemente, e reflectir a sério sobre aquilo em que temos urgentemente de mudar.

· Que, nessas várias celebrações que irão ser feitas em cada uma de nossas comunidades religiosas, os crentes descubram alguns gestos concretos que sejam o sinal visível de arrependimento, de pedido de perdão e de reconciliação.

· Que a partir desse momento, nós os crentes nos empenhemos juntos no trabalho árduo e longo, em favor duma reconciliação nacional, em que estejam envolvidas todas as camadas sociais. Os últimos acontecimentos dramáticos provam à evidência que a sociedade guineense ainda não está reconciliada consigo mesma.


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Que Deus todo-poderoso e cheio de Misericórdia ajude a transformar as nossas mentes e os nossos corações, volte para nós o seu rosto e abençoe a Guiné-Bissau!


Pela Igreja Católica


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Dom José Câmnate na Bissign – Bispo de Bissau

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D. Pedro Carlos Zilli – Bispo de Bafatá


Pela Igreja Evangélica


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Pastor José Paulo Domingos Semedo

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Pastor Paulo Mendes


Pela comunidade Muçulmana


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Aladje Tcherno Embalo – Conselho Superior dos Assuntos Islâmicos

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Aladje Abdulai Baio – Conselho Nacional Islâmico








Bissau, 02 de Abril de 2009