venerdì, dicembre 21, 2007

messaggio natalizio vescovi guinea bissau


MESSAGGIO NATALIZIO DEI VESCOVI delle DIOCESI DI BISSAU e BAFATA'



Mensagem natalícia dos Bispos da Guiné-Bissau:

NÃO TEMAIS: DEUS ESTÁ CONNOSCO!

(Cf. Lc.2, 10-11)

Aos cristãos da Guiné-Bissau e a todos os homens e mulheres de boa vontade

Introdução

Mais uma vez estamos celebrando a solene festa do Natal, uma festa eminentemente cristã mas que, com o andar dos séculos, se foi transformando também numa festa civil, com o perigo de desfocar o seu significado profundo e essencial, perdendo-se por vezes, sobretudo nos países economicamente mais fortes, numa generalizante “festa da Família”, numa folclórica divulgação do “pai-natal”, ou sobretudo num momento propício para lucrativos negócios de brinquedos e de todo o género de ofertas e despesas!

Na Guiné-Bissau, com condições materiais e culturais muito diferentes dos chamados “países ricos”, também nós vamos celebrar festivamente o nosso Natal, apesar das condições materiais bem difíceis e adversas que estamos a viver. Mas nem por isso nosso Natal será menos verdadeiro, nem menos feliz.

Bastará para isso que sejamos capazes de olhar para ele com olhos de fé e de manter nossa atenção fixada na vida real por que está passando neste momento a Guiné-Bissau. Natal, então, há-de ser para todos nós um momento feliz de Esperança renovada num amanhã melhor, bem como dum empenhamento pessoal para que, também neste canto da África Ocidental, se possam enraizar os valores maiores que sobressaem do presépio pobre de Belém desde há dois mil anos. Valores de fraternidade entre todos os cidadãos, de justiça social, de justa distribuição de riquezas, de confiança nas dificuldades da vida porque Deus nos visitou e está connosco, tendo armado sua tenda no meio de nós (Jo.1, 14).

Gostaríamos que esta Mensagem fosse um incentivo a todos vós, para fortalecer vossa fé e vossa esperança e para encorajar vossos esforços na construção duma nação guineense mais atraente para todos, apoiada em valores fundamentais que o tempo não possa destruir e que ganharam maior brilho no nascimento de Jesus Cristo em Belém. há pouco mais de dois mil anos.

1. Antes de mais, viver o Natal da Fé:

Para nós cristãos, o Natal é uma festa essencialmente religiosa, a ser vivida no íntimo do coração e no silêncio da alma. É a certeza de que em Belém há dois mil anos Deus veio realmente até nós; de que Jesus Cristo o Filho de Deus se fez homem como nós, assumindo nossa condição humana e todas as nossas inquietações e dores, para nos poder salvar em plenitude; é a certeza de que, com a incarnação de Jesus em Belém, a nossa humanidade foi infinitamente enobrecida, tornando-nos “filhos adoptivos” de Deus-Pai e herdeiros do Paraíso. Com a incarnação de Jesus Cristo, Deus mesmo nos falou e nos ajudou a entender melhor o nosso papel de criaturas humanas em relação ao mistério de Deus, à nossa actividade no mundo e ao nosso destino final na sua glória. Com a incarnação de Jesus chegou verdadeiramente para nós e para toda a humanidade a Salvação.

É isto mesmo que proclama alegremente a liturgia do Natal quando canta: “Hoje nasceu para nós um Salvador que é o Cristo Senhor” (Lc.2,11). Ou então: “O Verbo fez-se carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória” (Jo.1,14). E ainda: “A quantos O receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo.1, 12!

Mas será que o homem do terceiro milénio tem ainda necessidade dalgum Salvador que não seja ele mesmo? - Nossa resposta de cristãos, em sintonia com o que disse no Natal de 2006 o nosso Santo Padre o Papa Bento XVI, é apenas uma e é a seguinte: “Nesta época de abundância e de consumo desenfreado, ainda se morre de fome e de sede, de doença e de pobreza. Ainda existe quem é servo, explorado e ofendido na sua dignidade; quem é vítima do ódio racial e religioso, e é impedido (por intolerâncias e discriminações, por intromissões políticas e coerções físicas e morais) de professar livremente a sua própria fé. Há quem vê o próprio corpo e o dos seus entes queridos, especialmente as crianças, destroçado pelo uso das armas, pelo terrorismo e por todo o tipo de violência, numa época em que se invoca e proclama o progresso, a solidariedade e a paz para todos (...) Não obstante as numerosas formas de progresso, o ser humano permaneceu igual ao de sempre: uma liberdade dividida entre o bem e o mal, entre vida e morte. É precisamente ali, no seu íntimo, naquilo que a Bíblia chama de “coração”, onde ele tem sempre necessidade de ser “salvo”. Quem pode defendê-lo senão Aquele que o ama, a ponto de sacrificar na cruz o seu Filho Unigénito como Salvador do mundo? Cristo é efectivamente o Salvador, também do mundo de hoje” (mensagem natalícia de 2006)

2. Viver o Natal hoje, na Guiné-Bissau:

Celebramos a festa do Natal de 2007 num ambiente sócio-político e económico muito difícil, embora não desesperado. No firmamento da Guiné continuam a desenhar-se nuvens negras, que são outros tantos sinais de preocupação e desgraça para toda uma população que desde há muitos anos, mas sobretudo desde Junho de 1998, não tem parado de sofrer. Entre esses motivos de preocupação, não podemos naturalmente deixar de apontar a subida de preços dos produtos de primeira necessidade (não explicável apenas pelo mau ano agrícola que tem sido este ano de 2007), bem como a continuação da crise em domínios variados da vida nacional (devido a atrasos crónicos no pagamento de salários e às consequentes e dolorosas greves que se lhe têm seguido), ou ainda as dificuldades de acesso aos bens primários de saúde pela maioria da população, ou ao não-funcionamento normal das aulas nas escolas públicas do país.

Há porém um problema particular, que constitui para nós pastores uma preocupação especial e que não podemos calar neste ambiente de quadra natalícia. É o problema do narcotráfico no nosso país. Trata-se dum assunto delicado, do qual se fala frequentemente mas para o qual não se vêem ainda resultados palpáveis no combate concreto que lhe tem de ser movido. E até nos parece que a nossa população ainda não se deu conta da extensão e da gravidade moral deste negócio. Por causa deste problema, o nome da Guiné tem aparecido mais frequentemente nas bocas do mundo, infelizmente não para dizer bem mas para vergonha nossa.

Hoje, queremos dizer consciente e claramente que o narcotráfico é um negócio enganador e altamente nocivo: é enganador porque pode proporcionar lucros fáceis e rápidos; mas é nocivo porque conseguido injustamente à custa da saúde e da vida de quem consome a droga, além das consequências graves para a família e para a sociedade. Tanto aquele que vende a droga como aquele que a consome praticam um acto desonesto e que para nós cristãos constitui indubitavelmente um pecado grave, que a todo o custo deve ser evitado. Seria altamente lamentável se nós cristãos, que consideramos a vida como o dom mais precioso que Deus nos deu, viéssemos agora a colaborar também com semelhantes negociatas desonestas!

E aproveitamos também para deixar o nosso pedido às Autoridades do país e à Comunidade Internacional para que tudo façam para passar das palavras aos actos, agindo legalmente mas com severidade sobre todos aqueles – pequenos ou grandes – que quiserem continuar a enveredar por esta pista ruinosa para a nação. E pedimos igualmente a cada cidadão guineense que assuma com firmeza a sua responsabilidade neste campo.

Mas, apesar de tudo e neste ambiente propício do Natal, nem tudo são sombras negras nos horizontes da nossa terra. Há alguns sinais positivos, que apontam felizmente para dias melhores para todos nós nos tempos que se avizinham. Apontemos apenas alguns, sem pretensão de sermos exaustivos. Por exemplo, o desejo crescente e cada vez mais generalizado de reconciliação entre toda a família guineense, tanto da parte de militares como de civis. Além disso, podemos verificar que há também uma vontade evidente da Comunidade Internacional em querer ajudar a Guiné para que possa sair do fundo do poço em que ainda se encontra. E, sobretudo, podemos constatar que não faltam jovens quadros guineenses que, se quiserem e se os deixarem, poderão gradualmente conduzir o país para um modo de vida muito mais gratificante para todos.

Gostaríamos que estes sinais positivos (e outros semelhantes, não referidos aqui) se pudessem sobrepor aos sinais negativos atrás apontados, embora sem de modo algum os esquecer, porque são perigosos e nocivos, pondo em causa a paz e convivência sociais.

A terminar, queremos invocar a protecção de Jesus-Menino, o “Deus connosco”, para que, por intermédio de Maria sua e nossa Mãe, abençoe a Guiné-Bissau e a todas as famílias deste país conceda um Natal feliz e um futuro mais promissor.

Para todos vós, os nossos votos dum Santo e Feliz Natal!

Bissau, 20 de Dezembro de 2007